Nota de repúdio ao despejo das famílias da Ocupação Vila Esperança

O Núcleo Diversidade e Descolonização do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGL/UFES) vem, por meio desta nota, manifestar seu mais profundo repúdio ao violento despejo de mais de 700 famílias da Ocupação Vila Esperança, localizada em Vila Velha (ES).
Este despejo representa não apenas a negação do direito constitucional à moradia digna, mas também a perpetuação de práticas históricas de violência institucional, higienização social e silenciamento de populações vulnerabilizadas. Trata-se de uma ação que fere frontalmente os princípios de justiça social, de dignidade humana e de respeito às lutas coletivas por vida, território e futuro.
Reiteramos que a luta por moradia não pode ser tratada como caso de polícia. Trata-se de uma luta por sobrevivência, por reconhecimento, por pertencimento e por direitos básicos. É inadmissível que a Prefeitura Municipal de Vila Velha recorra a tal ato para beneficiar interesses privados e que o Estado apoie essa atitude sem uma garantia que seja viável para as famílias, já que o aluguel ofertado não conseguirá ser suficiente para que essas mesmas pessoas tenham moradia digna.
Além disso, o dano imaterial à memória cultural da população é impagável, atravessando mais de uma década de habitação no local e a participação ativa dos moradores em projetos sociais como o da horta comunitária.
O Núcleo Diversidade e Descolonização do PPGL/UFES reafirma sua solidariedade às famílias atingidas, aos movimentos sociais que atuam na defesa do direito à moradia, e se soma ao coro de vozes que exigem:
a) a suspensão imediata de quaisquer novas ordens de despejo;
b) a abertura de diálogo efetivo com os moradores, movimentos sociais e defensores de direitos humanos;
c) a garantia de políticas públicas que assegurem moradia digna e o direito à cidade para todas e todos.
Seguiremos lutando em nossos espaços acadêmicos, culturais, políticos e sociais por uma universidade comprometida com a justiça, a equidade e a transformação social — e por um país onde ninguém seja privado do direito de existir com dignidade.
Por fim, vale lembrar que essa ação veio a acontecer logo após o feriado de 07 de Setembro, em que comemoramos a Independência do Brasil.
Mas como o Brasil pode ser independente se o povo não tem onde morar?
Como pode ser independente se o povo não tiver o que comer?
Como pode ser independente se não tiver trabalho digno?
Lembremos duas frases célebres de Machado de Assis:
“O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco”.
“Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem campo do Ipiranga; não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma geração nem duas, muitas trabalharão para ela até perfazê-la de todo”
É necessário construirmos uma cultura brasileira autêntica, entranhada no cotidiano e no modo de ser do povo brasileiro, sem as formalidades e acordos de cúpula cínicos do "andar de cima" e sem bandeira dos Estados Unidos hasteada na Avenida Paulista.
Viva a luta das ocupações!
Viva a Vila Esperança!
Viva o povo brasileiro!
Núcleo Diversidade e Descolonização
Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGL
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES
Vila Velha, 09 de setembro de 2025
